domingo, 7 de junho de 2009

Soneto 26 - Lírico

Dizem que o amor é cego e a carne é fraca,

mas só amei alguém quando enxergava.

Hoje a cegueira queima como lava

e o coração resiste a qualquer faca.


Ontem tesão, agora ressaca.

Foi-se a paixão que fez minh'alma escrava.

Se inda me queixo dessa zica brava,

sou caçoado e passo por babaca.


Nem tudo está perdido: resta o cheiro

que invade-me as narinas quando passo

na porta do vizinho sapateiro.


Vá lá: o papel que faço é de palhaço.

O olfato é meu recurso derradeiro

e o cheiro do fetiche o único laço.

Glauco Mattoso

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