sábado, 12 de setembro de 2009

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti,tu a mi empenhado.
Rica te vi eu já,tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante.
Que em tua larga barra tem entrado.
A mim foi-me trocando, e tem trocado.
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capacete!




Gregório de Mattos

Trechos de ironia

"-Retórico e sutil! exclamou o Senhor. Vai,vai, funda a tua igreja; chama todas as virtudes, recolhe todas as franjas,convoca todos os homens... Mas, vai! vai!"

"-Que queres tu, meu pobre diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana."

Trechos de boa oratória (Argumento)

"-Não,mas provavelmente é dos últimos que virão ter convosco.Não tarda muito que o céu fique semelhante a uma casa vazia,por causa do preço,que é alto.Vou edificar uma hospedaria barata;em duas palavras ,vou fundar uma igreja.Estou cansado da minha desorganização,do meu reinado casual e vim dizer-vos isto,com lealdade,para que me não acuseis de dissimulação... Boa idéia,não vos parece?"



" Tu és vulgar, que é o pior que pode acontecera um espírito da tua espécie,replicou-lhe o senhor. Tudo o que dizes ou digas está dito e redito pelos moralistas do mundo. É assunto gasto; e se não tens força,nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor á que te cales e te retires .Olha; todas as minhas legiões mostram no rosto os sinais vivos do tédio que lhes dás. Esse mesmo ancião parece enjoado; e sabes tu o que ele fez?"

Relação entre "A igreja do diabo" e símbolo Yin e Yang

O símbolo quer dizer que sempre dentro de algo,existe um pedaço de outra coisa que é oposta e se contrapõe à ele,como no conto "A igreja do diabo".Ele conta que quando não existia a religião do que era "proibido",as pessoas faziam essas coisas escondido.E quando passou a existir,alguns continuaram com os velhos hábitos,que eram praticados "por baixo do pano" também.Ou seja,nada nunca vai ser perfeito,porque a vida é sempre uma contradiçao,e as pessoas nunca terão uma vontade que seja "uniforme".

domingo, 2 de agosto de 2009

Como pedir uma pizza em 2015

* Telefonista: Pizza Hot, boa noite!

* Cliente: Boa noite! Quero encomendar pizzas...


* Telefonista: Pode me dar o seu NIDN?


* Cliente: Sim, o meu número de identificação nacional é 6102-1993-8456-54632107.

* Telefonista: Obrigada, Sr.Lacerda. Seu endereço é Avenida Paes de Barros, 1988 ap. 52 B, e o número de seu telefone é 5494-2366, certo? O telefone do seu escritório da Lincoln Seguros é o 5745-2302 e o seu celular é 9266-2566.

* Cliente: Como você conseguiu essas informações todas?

* Telefonista: Nós estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central.

* Cliente: Ah, sim, é verdade! Eu queria encomendar duas pizzas, uma de quatro queijos e outra de calabresa...

* Telefonista: Talvez não seja uma boa idéia...

* Cliente: O quê?

* Telefonista: Consta na sua ficha médica que o Senhor sofre de hipertensão e tem a taxa de colesterol muito alta. Além disso, o seu seguro de vida proíbe categoricamente escolhas perigosas para a sua saúde.

* Cliente: É você tem razão! O que você sugere?

* Telefonista: Por que o Senhor não experimenta a nossa pizza Superlight, com tofu e rabanetes? O Senhor vai adorar!

* Cliente: Como é que você sabe que vou adorar?

* Telefonista: O Senhor consultou o site 'Recettes Gourmandes au Soja' da Biblioteca Municipal,dia 15 de janeiro, às 4h27minh, onde permaneceu conectado à rede durante 39 minutos.
Daí a minha sugestão...


* Cliente: OK está bem! Mande-me duas pizzas tamanho família!

* Telefonista: É a escolha certa para o Senhor, sua esposa e seus 4 filhos, pode ter certeza.

* Cliente: Quanto é?

* Telefonista: São R$ 49,99.

* Cliente: Você quer o número do meu cartão de crédito?

* Telefonista: Lamento, mas o Senhor vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu
cartão de crédito já foi ultrapassado.


* Cliente: Tudo bem, eu posso ir ao Multibanco sacar dinheiro antes que chegue a pizza.

* Telefonista: Duvido que consiga! O Senhor está com o saldo negativo
no banco.


* Cliente: Meta-se com a sua vida! Mande-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam?


* Telefonista: Estamos um pouco atrasados, serão entregues em 45 minutos. Se o Senhor estiver com muita pressa pode vir buscá-las, se bem que transportar duas pizzas na moto não é aconselhável, além de ser perigoso...

* Cliente: Mas que história é essa, como é que você sabe que eu vou de moto?

* Telefonista: Peço desculpas, mas reparei aqui que o Sr. não pagou as últimas prestações
do carro e ele foi penhorado. Mas a sua moto está paga, e então pensei que fosse utilizá-la.


* Cliente: @#%/§@&?#>§/%#!!!!!!!!!!!!!

* Telefonista: Gostaria de pedir ao Senhor para não me insultar... Não se esqueça de que o Senhor já foi condenado em julho de 2006 por desacato em público a um Agente Regional.

* Cliente: (Silêncio)

* Telefonista: Mais alguma coisa?

* Cliente: Não, é só isso... Não, espere... Não se esqueça dos 2 litros de Coca-Cola que constam na promoção.

* Telefonista
: Senhor, o regulamento da nossa promoção, conforme citado no artigo 3095423/12, nos proíbe de vender bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...


* Cliente: Aaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!!!!!!
Vou me atirar pela janela!!!!!


* Telefonista: E machucar o joelho? O Senhor mora no andar térreo!

(Luiz Fernando Veríssimo)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Poesia concretista

Maria acordou cedo bebeu um copo de leite foi pra academia fez ginástica voltou pra casa tomou banho tomou café escovou os dentes arrumou o quarto lavou o banheiro varreu a sala foi no shopping comprou vinho comprou a janta comprou um cd novo comprou um vestido passou na floricultura comprou um buquê de tulipas escreveu uma dedicatória no cartão mandou entregar á noite foi ao salão fez o cabelo fez as unhas voltou pra casa tomou banho pediu uma pizza comeu escovou os dentes dormiu sonhou acordou ligou o som pôs o cd novo preparou a janta tomou outro banho pôs o vestido novo pôs o vinho na taça pôs a janta no prato jantou ouviu a campainha tocar atendeu recebeu o buquê de tulipas leu o cartão: Feliz Aniversário!

Victor Az



A Formiguinha Feliz

Todos os dias a Formiga produtiva e feliz chegava ao escritório. Ali transcorria os seus dias, trabalhando e cantarolando uma velha canção de amor.
Era produtiva e feliz, mas não era supervisionada. O Marimbondo, gerente geral, considerou o fato impossível e criou um cargo de supervisor, no qual colocaram uma Barata com muita experiência.
A primeira preocupação da Barata foi a de padronizar o horário de entrada e saída, além de preparar belíssimos relatórios.
Bem depressa se fez necessária uma secretaria para ajudar a preparar os relatórios e, portanto, empregaram uma aranhazinha, que organizou os arquivos e se ocupou do telefone. Em quanto isso, a formiga produtiva e feliz trabalhava e trabalhava.
O Marimbondo, gerente geral, estava encantado com os relatórios da Barata, e terminou por pedir também quadros comparativos e gráficos, indicadores de gestão e analise das tendências. Foi, então, necessário empregar uma Mosca ajudante do supervisor, e foi preciso um novo computador com impressora colorida.
Logo a Formiga produtiva e feliz parou de cantarolar as suas melodias e começou a lamentar-se de toda aquela movimentação de papeis que tinha de ser feita.
O Marimbondo, gerente geral, concluiu, portanto, que era o momento de adotar medidas: criaram a posição de gestor da área onde a Formiga produtiva e feliz trabalhava.
O cargo foi dado a uma Cigarra, que mandou colocar carpete no seu escritório e comprar uma cadeira especial. A nova gestora de área - claro - precisou de um computador novo, e quando se tem mais do que um computador, a Internet se faz necessária. A nova gestora logo precisou de um assistente (sua assistente na empresa anterior) para ajuda-la a preparar o plano estratégico e o orçamento para a área onde trabalhava a Formiga produtiva e feliz.
A Formiga já não cantarolava mais, e cada dia se tornava mais irascível. "Precisaremos pagar para que seja feito um estudo sobre o ambiente de trabalho um dia desses", disse a Cigarra. Mas um dia, o gerente geral - ao rever as cifras - se deu conta de que a unidade na qual a Formiga produtiva e feliz trabalhava não rendia muito mais.
E assim contratou a Coruja, consultora prestigiada, para que fizesse um diagnostico da situação.
A Coruja permaneceu três meses nos escritórios e emitiu um relatório brilhante com vários volumes e custo de "vários" milhões, que concluía:
"Ha muita gente nesta empresa".
E assim, o gerente geral seguiu o conselho da consultora e demitiu a Formiga, por que andava muito desmotivada e aborrecida...

Moral:Antes de julgar ,devemos examinar o contexto.

Projeto NURC

Objetivo
O Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta (Projeto NURC) tinha inicialmente o objetivo de documentar e descrever a norma objetiva do português culto falado em cinco capitais brasileiras: Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife. A partir de 1985, considerando as novas tendências de análise lingüística, ampliou-se o escopo do projeto, no sentido de abraçar outros aspectos, tais como: análise da conversação, análise da narrativa, análise sócio-pragmática do discurso e outros.

O que é gramática normativa?

gramática normativa a gramática que busca ditar, ou prescrever, as regras gramaticais de uma língua, posicionando as suas prescrições como a única forma correta de realização da língua, categorizando as outras formas possíveis como erradas.

O que é gramática descritiva?

A gramática descritiva é uma gramática que se propõe a descrever as regras de como uma língua é realmente falada, a despeito do que a gramática normativa prescreve como "correto". É a gramática que norteia o trabalho dos linguistas que pretendem descrever a língua tal como é falada.

Sonho de Deus

Querem calar o poeta
Que canta a libertação
Que resgata a memória
De resistência à escravidão.

Querem silenciar os atabaques
A dança da negra gente,
Que na força do Axé
Sonha um Brasil diferente.

Querem emudecer nosso grito
De denúncia e indignação
Contra o sistema corrupto
Que gera miséria e opressão.

Mas o sonho, a dança e o canto,
Calados não serão,
Pois é sonho de Olorum,
O Deus da Libertação!

Arlekson Barreto Ramos

receita para arrancar poemas presos:

você pode arrancar poemas com pinças

buchas vegetais. óleos medicinais

com as pontas dos dedos. com as unhas

com banhos de imersão

com o pente. com uma agulha

com pomada basilicão

alicate de cutículas

massagens e hidratação

mas não use bisturi nunca

em caso de poemas difíceis use a dança.

a dança é uma forma de amolecer os poemas

endurecidos do corpo.

uma forma de soltá-los

das dobras dos dedos dos pés. das vértebras

dos punhos. das axilas. do quadril

são os poema cóccix. os poema virilha

os poema olho. os poema peito

os poema sexo. os poema cílio

ultimamente ando gostando de pensamento chão

pensamento chão é poema que nasce do pé

é poema de pé no chão

poema de pé no chão é poema de gente normal

gente simples

gente de espírito santo

eu venho do espírito santo

eu sou do espírito santo

traga a vitória do espírito santo

santo é um espírito capaz de operar milagres

sobre si mesmo


Viviane Mosé

domingo, 7 de junho de 2009

(Sem título)

Terrorismo com torresmo,

Represália a alho e óleo,

Militante à milanesa,

E tortilha de guerrilha.


Ciranda, cirandinho,

Vamos todos cirandar,

Vamos dar a meia volta,

Volta e meia vamos dar.


Molho pardo de massacre de combate,

Passeata com cassata de mandato,

Gabinetes com tortura ao molho tártaro,

Putsch com ketchup, croquetes de seqüestro.


Salada mista extremista com vinho de Greves,

Trincheiras trinchadas com ilegumes partidos,

Regimes e Dietas à la Magna Carta.

Magna

Che te fa fene!


Valentim, tim, tim,

Valentim, meu bem,

Quem tiver inveja

Faça assim também.

Soneto 26 - Lírico

Dizem que o amor é cego e a carne é fraca,

mas só amei alguém quando enxergava.

Hoje a cegueira queima como lava

e o coração resiste a qualquer faca.


Ontem tesão, agora ressaca.

Foi-se a paixão que fez minh'alma escrava.

Se inda me queixo dessa zica brava,

sou caçoado e passo por babaca.


Nem tudo está perdido: resta o cheiro

que invade-me as narinas quando passo

na porta do vizinho sapateiro.


Vá lá: o papel que faço é de palhaço.

O olfato é meu recurso derradeiro

e o cheiro do fetiche o único laço.

Glauco Mattoso

Governamental

Tamanho nepotismo se constata

nos quadros do governo, que, bem breve,

nenhum parente vivo fora deve

ficar da mordomia e da mamata!


o genro, a nora, a sogra mais ingrata,

cunhados e sobrinhos, quem se atreve

a demiti-los, mesmo quando em greve

declaram-se ou trabalham sem gravata?


Nenhum apaniguado que se preza

aceita cargo abaixo de chefia,

cartilha em que a família toda reza.


Se alguém a falcatrua denuncia,

chamado é de "invejoso", pois lhe pesa

a culpa de ocupar vaga da tia.

Glauco Mattoso

LICENCIOSO

Poetas têm licença p'ra mudar
até certos preceitos de gramática.
Alteram nomes, fatos, pondo em prática
um próprio e onipotente linguajar.

A tal liberação vem compensar
limitações de molde e de temática.
Porém a liberdade democrática
não passa do direito de pensar.

Agora, o que me intriga é a incoerência
daqueles que defendem o poeta
mas negam-lhe o prazer da preferência.

Condenam minha tara predileta,
a cega devoção ao pé, tendência
poupada se for "hétero" e discreta.

Glauco Mattoso

Define a Sua Cidade





De dois ff se compõe

esta cidade a meu ver:

um furtar, outro foder.







Recopilou-se o direito,

e quem o recopilou

com dous ff o explicou

por estar feito, e bem feito:

por bem digesto, e colheito

só com dous ff o expõe,

e assim quem os olhos põe

no trato, que aqui se encerra,

há de dizer que esta terra

de dous ff se compõe.





Se de dous ff composta

está a nossa Bahia,

errada a ortografia,

a grande dano está posta:

eu quero fazer aposta

e quero um tostão perder,

que isso a há de perverter,

se o furtar e o foder bem

não são os ff que tem

esta cidade ao meu ver.





Provo a conjetura já,

prontamente como um brinco:

Bahia tem letras cinco

que são B-A-H-I-A:

logo ninguém me dirá

que dous ff chega a ter,

pois nenhum contém sequer,

salvo se em boa verdade

são os ff da cidade

um furtar, outro foder.

Gregório de Matos

Finge que Defende a Honra da Cidade e Aponto os Vícios de Seus Moradores





Uma cidade tão nobre,

uma gente tão honrada

veja-se um dia louvada

desde o mais rico ao mais pobre:

cada pessoa o seu cobre,

mas se o diabo me atiça,

que indo a fazer-lhe justiça

algum saia a justiçar,

não me poderão negar

que por direito, e por Lei

esta é a justiça, que manda El-Rei





O Fidalgo de solar

se dá por envergonhado

de um tostão pedir prestado

para o ventre sustentar:

diz que antes o quer furtar

por manter a negra honra,

que passar pela desonra

de que lhe neguem talvez;

mas se o virdes nas galés

com honras de Vice-Rei,

esta é a justiça, que manda El-Rei





A Donzela embiocada

mal trajada, e mal comida,

antes quer na sua vida

ter saia, que ser honrada:

à pública amancebada

por manter a negra honrinha,

e se lho sabe a vizinha

e lho ouve a clerezia,

dão com ela na enxovia

e paga a pena da lei:

esta é a justiça, que manda El-Rei.





A Casada com adorno,

e o Marido mal vestido,

crede que este tal Marido

penteia monho de corno:

se disser pelo contorno

que se sofre a Frei Tomás

por manter a honra o faz,

esperai pela pancada,

que com carocha pintada

de Angola há de ser Visrei:

esta é a justiça, que manda El-Rei.





Os Letrados Peralvilhos

citando o mesmo Doutor

a fazer de réu o Autor

comem de ambos os carrinhos:

se se diz pelos corrilhos

sua prevaricação,

a desculpa, que lhe dão,

é a honra de seus parentes

e entonces os requerentes

fogem desta infame grei:

esta é a justiça, que manda El-Rei.





O Clérigo julgador,

que as causas julga sem pejo,

não reparando que eu vejo

que erra a Lei, e erra o Doutor:

quando vêem de Monsenhor

a sentença revogada

por saber que foi comprada

pelo jimbo, ou pelo abraço,

responde o Juiz madraço,

minha honra é minha Lei:

esta é a justiça, que manda El-Rei.



O Mercador avarento,

quando a sua compra estende,

no que compra, e no que vende,

tira duzentos por cento:

não é ele tão jumento,

que não saiba que em Lisboa

se lhe há de dar na gamboa;

mas comido já o dinheiro

diz que a honra está primeiro,

e que honrado a toda Lei:

esta é justiça, que manda El-Rei.





A Viúva autorizada,

que não possui um vintém,

porque o Marido de bem

deixou a casa empenhada:

ali vai a fradalhada,

qual formiga em correição,

dizendo que à casa vão

manter a honra da casa;

se a virdes arder em brasa,

que ardeu a honra entendei:

esta é a justiça, que manda El-Rei.





O Adônis da manhã,

o Cupido em todo dia,

que anda correndo a coxia

com recadinhos da Irmã:

e se lhe cortam a lã,

diz que anda naquele andar

por a honra conservar

bem tratado, e bem vestido,

eu o verei tão despido,

que até as costas lhe verei:

esta é a justiça, que manda El-Rei.





Se virdes um Dom Abade

sobre o púlpito cioso,

não lhe chameis religioso,

chamai-lhe embora de frade:

e se o tal paternidade

rouba as rendas do convento

para acudir ao sustento

da puta, como da peita,

com que livra da suspeita

do Geral, do Viso-Rei:

esta é a justiça, que manda El-Rei.

Gregório de Matos

Poema a um estudante.

Mancebo sem dinheiro, bom barrete,

Medíocre o vestido, bom sapato,

Meias velhas, calção de esfola-gato,

Cabelo penteado, bom topete.

Presumir de dançar, contar falsete,

Jogo de fidalguia, bom barato,

Tirar falsídia ao moço do seu trato,

Furtar a carne à ama que promete.

A putinha aldeã achada em feira,

Eterno murmurar de alheias famas,

Soneto infame, sátira elegante.

Cartinhas de trocado para a Freira,

Comer boi, ser Quixote com as Damas,

Pouco estudo, isto é ser estudante.

Gregório de Matos

domingo, 19 de abril de 2009

“Diário de uma vampira”

Meu nome é Suzy Hatson, e na época eu cursava o 2º ano EM. Eu não era popular na escola, tinha apenas pouquíssimos conhecidos que se diziam “doidos” e ainda (raramente) falavam comigo. Minha pele branca e meu cabelo bem preto assustavam as pessoas a tal ponto, que eu era considerada “A” estranha. Na hora do intervalo, eu me sentava sozinha, ninguém gostaria de ser visto na mesa da esquisita, eu aceitava isso numa boa, pois a receptividade que eu tinha com os que tentavam se aproximar, não era o suficiente.
Era um dia chuvoso, estávamos no inverno, o sol raramente aparecia e estava fazendo um frio considerável, mas para quem mora em Forks a um ano e meio, isso é completamente natural. Eu me lembro como se fosse ontem dia 10 de janeiro de 2006, o dia que mudou a historia da minha quase vida.
Tudo começou no momento em que ela, Isabella Swan entou na sala de aula, ela olhou primeiro para Edward Aullen, (um menino cuja a beleza era a mais perfeita que eu já tinha visto, mas que nunca me despertou interesse grande) e depois para mim, havia um lugar vago entre nos, e foi onde ela se sentou. Tentei ser educada, a menina era recém chegada, e devia no mínimo estar assustada com tantas coisas novas. Falei oi, elas sorriu e disse oi também, parecia não se importar com minha aparência, daí em diante, começamos a conversar, e ela ate sentou comigo para lanchar. No 2° dia foi a mesma coisa, no 3° também, até que nos tornamos amigas. Com 2 semanas de aula, já parecíamos amigas de infância, confidentes.
Depois de um mês de aula, ela e eu ate falávamos com todos da sala, até com Edward nós (mas Isabella do que eu) conversávamos. Logo com ele, que só sentava com os irmãos e irmãs e não falava com ninguém. Percebi rapidamente que ele gostava dela, e que era recíproco apesar do meu 6º sentido existir de verdade, até sem ele eu saberia isso.
Edward e Isabella foram rápidos, ele começou a levar ela em casa, conversar mais do que apenas amigos conversavam e quando vi, ele, Edward Aullen, tão isolado quanto eu, estava namorando com aminha, então, melhor amiga. E era tão lindo, quando ele não estava com ela, estava com ela por telefone, e se ela fosse no fim do mundo, ele iria busca-la lá, porque Bella era extremamente inconseqüente e ele não podia sonhar em perde-la.
Tudo ia às mil maravilhas, ate que o interfone da minha casa tocou, olhei pela câmera e eram eles dois, corri para abrir, e quando abri vi que Bella estava muito pálida e ofegante, chamei os dois para entrar e obriguei a me contar o que estava acontecendo. Edward não explicou direito e saiu a 100 km/h na sua Ferrari super equipada e dizendo que ia estar por perto vigiando os arredores. Pelo pouco que ele falou, entendi que tinha um cara que queria Bela para atingir ele. Eu, é obvio, que não engoli essa historia e comecei a afirmar a minha idéia fortíssima de que Edward Aullen era, como eu, um vampiro. Tentei tirar algo de Bella, mas foi inútil, ela não disse nada.
Quando eu menos estava esperando, justamente quando meus pais saíram, ele entrou, logo se apresentou como Lauren, um homem baixo, cabelo preto e curto, forte, era até bonito, mas apesar de ter uma cor mais bronzeada, também era pálido. Na hora que Bella viu quem era, fez uma cara mais assustada possível e ficou imóvel. Como eu já sabia de tudo, Lauren também era vampiro e o cheiro do sangue de Bella, era irresistível para alguns de nós.
Ele ficou nos rodeado por algum tempo e falando sobre a sua vida de caçador, até que num piscar de olhos Edward estava na sala, nunca tinha visto com uma fisionomia tão raivosa e apavorada. Eles se olharam por alguns segundos e Lauren avançou em Bella, quando vi, pulei junto com Edward também. Me senti como um animal feroz, tinha prometido para mim que não faria aquilo, mas era preciso, minha, agora, quase irmã estava correndo risco de vida. Depois de muito se debater, Lauren foi tirado de cima de Bella, que estava respirando de novo. Fomos eu, ele e Edward para a floresta que era atrás da minha casa e começamos a lutar de igual pra igual num combate feroz. Eu já tinha levado vários socos e estava fraca quando, por um milagre, chegaram (a uns 200 km/h) os irmãos de Edward, ai ficou fácil, ele já estava bem machucado e a chegada de ajuda o tranqüilizou. Ficaram os três cuidando de Lauren e eu fui com Edward atrás de Bella. Quando voltamos para a minha casa, ela estava sentada no chão esperando notícias, assim que ela nos viu, correu em direção, deu um beijo em Edward e um abraço em mim. Sentamos no sofá e conversamos tranquilamente, pois sabíamos que com os irmãos dele lá, não teríamos mais problemas com Lauren. Depois desse episodio “vampirisco” , eu tive que contar o que eu era de verdade, eles ficaram bastantes surpresos, diferente de mim ao saber que Edward não mostrou por já ter uma desconfiança muito forte. Bella saber da condição dele e da família também não me impressionou, eu tinha certeza de que um dia eles se casariam.
Quando retomamos a nossa vida relativamente “normal”, eu já não era solitária, tinha amigos que não eram mais só Bella. Edward e seus 2 irmãos e 2 irmãs também fazia parte do meu novo e inédito círculo social, e eles ate sentavam na mesma mesa que eu.